TOADA DO CAVALO MAMÃO E SEU CAVALEIRO ANDANTE
Para Arnaud Costa, lembrando o episódio de sua fuga no cavalo “Mamão”, diante da ameaça de prisão por parte do Exército, em 1964.
O cavalo glorioso
E o guia desse cavalo
perante o azul do seu dia
vai construindo harmonia
com dores no intervalo.
É Arnaud Costa decerto
Montado para lutar
Contra dragões gafanhotos
Foi cavalgando altaneiro
Porque é preciso chegar,
Construindo o amanhã
Na crina do seu cavalo
E o seu braço secular.
No caminho, exilados,
Presos, mortos, torturados,
Pisados e incinerados
De uma guerra imunda.
O grito ferindo a noite
E o cavalo, no açoite,
Em aventura profunda.
Galopa, Mamão, galopa,
Que é preciso chegar!
O verde ferindo a noite
Quer o cavalo alcançar,
Seu bravo rastro seguindo,
Trava do dia o raiar.
O jornalista encantado,
Em movimentos de guerra
Num vale tudo de tempos
E espaços intercruzados,
Segue ao trote de cinema
Com cortes emocionados.
Vê com fúria e comoção
A destruição solene
Da fada democracia.
O seu cavalo, sem pressa,
Segue cumprindo a promessa
De ver raiar outro dia.
Não faz mal as aflições
Contrapontos viscerais,
Enclausurados, tolhidos
Por cabos e generais.
Pois cavalo e cavaleiro
Não se separam jamais,
Ternos e dilacerados,
Assombramentos vitais.
O reino que não tem rei,
De uma ou outra forma,
No interior escondido
De cavalo e cavaleiro
Alarga suas fronteiras
Em terreno companheiro.
F. Mozart
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